Modelos
e práticas de Gestão Escolar: algumas reflexões.
Percursos
Históricos,
Ano II, vol. jun., série 28/06, 2012
SOARES, Marilda
Podemos,
em síntese, dizer que há três práticas de gestão escolar mais comuns no
cotidiano dos educadores e das escolas: a gestão democrática, a gestão
burocrática e a gestão autocrática.
A
gestão democrática é também participativa. Nela o gestor encontra-se com os
demais membros do contexto escolar para compartilhar problemas, ouvir propostas
e tomar as decisões, sempre pautado pelo bom senso, pela ética e pela
autoridade que lhe é conferida pela função que desempenha.
A gestão burocrática é aquela em que o gestor permanentemente ocupa-se de formulários, fichas de controle e afirma seguir as normas de modo a dar à instituição uma organicidade rígida. Nesse caso, geralmente, as especificidades não consideradas e as decisões podem se sobrepor às reais necessidades da equipe gestora, dos educadores, funcionários, alunos e, mesmo, opor-se aos reais interesses da educação, que são a qualidade de ensino e a formação permanente.
Na
gestão autocrática, por sua vez, o gestor constrói em torno de si uma muralha,
considerando-se superior aos demais membros da equipe escolar. A concentração
de poder e as atitudes autoritárias são comuns a esse modelo de gestão, pois
não são consideradas necessidades ou opiniões.
Há,
ainda, uma combinação entre os modelos de gestão burocrática e autocrática,
circunstância em que o gestor passa a encontrar sérias dificuldades para compor
sua equipe de trabalho, na medida em que afasta-se do fator básico que é a
valorização dos profissionais que o cercam, bem como incorre em erros ainda
mais sérios, isolando-se e distanciando-se da possibilidade de constituir
relações interpessoais solidárias.
Ao
refletirem sobre esses modelos de gestão escolar, os educadores preocupados com
a qualidade do ensino têm se debruçado sobre os temas da gestão democrática e
da escola autônoma, na medida em que esses aspectos interferem diretamente no
contexto escolar e na forma de organização do trabalho, tanto no que se refere
aos aspectos administrativos, quando aos relacionados ao envolvimento dos
sujeitos escolares e da qualidade do ensino oferecido.
Atualmente,
há um consenso de que a democratização da gestão garante a possibilidade de
melhoria no processo educacional como um todo.
Quando
se fala em gestão democrática e autonomia é fundamental considerar a necessidade
de envolvimento de todos os seguimentos da comunidade escolar na construção de
espaços de discussão e tomada de decisão, que é um processo contínuo e
dinâmico.
Para
tanto, os gestores devem garantir a participação, o envolvimento e a interação
dos docentes, funcionários, alunos e da própria comunidade, pois uma escola
democrática exige a prática do ouvir, do falar, do decidir coletivamente.
É
fundamental, também, que os professores estejam dispostos a enfrentar a
necessidade de adequar e renovar seus métodos de ensino, bem como sua postura
frente aos desafios cotidianos do ambiente escolar.
O
contexto histórico atual impõe aos profissionais da educação a adoção de nova concepção
de educação e de prática educativa, nas quais o autoritarismo desse ser posto
de lado, dando lugar ao exercício das práticas democratizantes.
No texto O Projeto Pedagógico e a construção
da autonomia: alguns pontos para reflexão, Miguel Henrique Russo afirma que um
caminho para a construção da gestão democrática, da constituição da equipe de
trabalho, da formação docente e da definição das metas educativas é a discussão
e a construção coletiva do Projeto pedagógico:
A organização
tecno-burocrática das redes e unidades escolares, que centraliza o poder e que
separa a concepção da execução, expropriou dos professores aquilo que faz deles
educadores: a autonomia para conduzir seu trabalho com independência intelectual.
O resultado da vigência desse modelo contribuiu para produzir o estado atual da
escola e do ensino e, especialmente, contribuiu para a desqualificação dos
docentes.
O projeto político-pedagógico aparece,
nesse cenário, como o instrumento capaz de catalisar um movimento que, ao mesmo
tempo que se opõe ao centralismo e a visão tecnocrática na educação, é capaz de
redimir os professores e demais sujeitos da escola com a construção coletiva de
uma proposta singular para sua escola concreta, que constitui seu espaço
cotidiano de trabalho e estudo (RUSSO, 2000, p. 1).
Assim, vemos que o Projeto Pedagógico é um
instrumento central no processo de mudança das concepções e práticas
educativas, na medida em que pode favorecer ou não a descentralização, a participação
e a construção coletiva do conhecimento e da escola democrática.
O mesmo autor, em Projeto Político-Pedagógico da escola e descentralização da educação,
considera:
Na medida em que a transformação da
escola é um processo que pode seguir em diversas direções, o projeto tem a
função de estabelecer uma diretriz que vai orientar os planos e as ações
individuais e coletivas. Daí ter ele que contemplar uma reflexão e uma opção da
escola sobre os valores que serão adotados no estabelecimento das finalidades
da educação a ser oferecida aos alunos.
A definição de valores e fins que
nortearão o trabalho da escola é, como vimos, fundamental, porém não completa o
projeto. Não só porque ele não se esgota na concepção, isto é, não pode se
limitar a criação de um objeto ideal, mas sobretudo, e principalmente, porque
engloba etapas cruciais de operacionalização dos valores e fins: em termos de
planos específicos
que dêem conta das várias dimensões do trabalho escolar, como o Plano Escolar
(Plano de Gestão), os Planos de Ensino etc; em termos das normas regulamentares
do processo escolar (Regimento Escolar e outros documentos normativos ...) que
precisam ser implementados (RUSSO, 1998).
A construção e
organização do Projeto Pedagógico devem conter a identificação da comunidade na
qual a escola está inserida, suas especificidades e necessidades; a organização
de grupos de trabalho, para leitura e discussão de referenciais teóricos e
documentos; a proposta e organização de atividades que garantam alcançar os
objetivos de ensino-aprendizagem e de constante construção do conhecimento; a
avaliação do processo e dos resultados; e, de forma dinâmica, a adoção de novas
perspectivas, caso seja necessário.
O gestor deve considerar que o Projeto
Pedagógico envolve aspectos ligados à participação dos diferentes sujeitos
escolares, a organização do currículo escolar como eixo direcionador do
processo de ensino-aprendizagem, visando a melhoria da qualidade da educação e
maiores oportunidades educativas e sociais para os alunos.
Conforme esclarece Rios,
Os diretores são
articuladores dos projetos; o que significa que não o fazem isolados ou por uma
determinação pessoal, mas que devem estar mesmo procurando ligar ações,
coordenar atividades, promover relações, no sentido de compor a teia curricular
das unidades escolares. Trabalho coletivo... Trabalho de tessitura de um
artefato que possa mesmo ser chamado de uma rede – rede de ensino tecida por
nós (RIOS, 1992).
A integração dos diferentes sujeitos no processo
de discussão e tomada de decisão faz com que todos se sintam valorizados: os
alunos e os profissionais da educação. Assim, certamente, haverá mais
envolvimento e cooperação e muitos problemas que parecem crônicos poderão ser
solucionados por meio da participação democrática.
Bibliografia.
ALONSO, Mirthes. O
papel do diretor na Administração Escolar. São Paulo: Difel, 1982.
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República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
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DRUCKER, Peter. De líder para líder. São Paulo: Futura, 1992.
FAVA, Rubens. Caminhos da Administração. São Paulo: Pioneira, 2002.
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RUSSO,
Miguel. O projeto pedagógico e a construção da autonomia: alguns pontos para
reflexão. In: VII Seminário Estadual da
Associação Nacional de Politíca e Administração da Educação - ANPAE/SP,
2000, São Carlos. Anais do VII Seminário Estadual da ANPAE-SP, 2000.
SANTOS, Clovis Roberto dos. A gestão educacional e escolar para a
modernidade. São Paulo: Cengage Learning, 2008.