Breves considerações sobre a Gestão Escolar: desafios e possibilidades.
Percursos Históricos, Ano I, vol. abr., série
14/04, 2012
SOARES, Marilda
As demandas da sociedade contemporânea transformam a
concepção de educação e suas funções e, do mesmo modo, fazem com que os papeis
a serem desempenhados por seus profissionais passem por revisões.
Até recentemente considerava-se que o papel do gestor,
da coordenação ou direção escolar, era de controle das ações
técnico-pedagógicas ou técnico-burocráticas. Entretanto, mudanças de paradigma
passaram a indicar para um novo caminho, e o gestor tem sido chamado a
desempenhar funções que favoreçam a educação em um mundo em constante mudança.
As atividades a serem
desenvolvidas por gestores ligam-se ao planejamento, à formação
docente continuada ou contínua, ao projeto pedagógico, às relações interpessoais
e lideranças, à mediação entre a prática administrativa e a prática pedagógica,
às intervenções na prática pedagógica, à avaliação do trabalho educacional, à
construção de parcerias, à gestão democrática e ao próprio compromisso dos
gestores quanto ao seu papel frente à escola e à sociedade.
Em relação ao corpo de
profissionais que chefia ou orienta, o gestor deve ser um motivador do
trabalho, compreendendo que a ação educativa exige a constante superação dos
desafios cotidianos, o que pressupõe a adequação das expectativas e tarefas, a
coordenação das relações interpessoais, considerando sempre as relações
recíprocas entre competência profissional, afetividade, condições de trabalho e
funções da escola e do ensino.
Em relação ao corpo
discente e à comunidade, é importante que o gestor esteja preparado para
estruturar um trabalho voltado para a pedagogia do sucesso e não do fracasso,
da inclusão e não da exclusão, da diversidade e não da homogeneidade, da
participação democrática e não da centralização de poder.
De acordo com Ilma Passos, os princípios norteadores
da construção de um projeto pedagógico em uma escola democrática são a
igualdade de condições de acesso e permanência na escola e a qualidade do
ensino oferecido a todos os alunos, independente da sua classe social, como
fatores complementares e indissociáveis.
Há, ainda, que se considerar os princípios de liberdade e
de valorização do magistério. A liberdade representando as possibilidades de
escolha e participação no fazer educativo, visando a construção de sujeitos
autônomos e capazes de contribuir para a melhoria do ensino. Ou seja, a
valorização passa pela permanente formação, capacitação profissional, pela
remuneração e adequadas condições de trabalho.
Essa valorização dos profissionais da educação, como
responsáveis pela formação de indivíduos competentes, corresponde ao respeito a
indivíduos conscientes e em condição de atuar no meio social de forma ética,
autônoma e colaborativa.
De acordo com Rios, a escola democrática constitui-se
a partir da liberdade que se processa em um trabalho coletivo, com tarefas e
saberes compartilhados por professores, funcionários, alunos e comunidade na
medida em que todos são responsáveis pela construção e execução do projeto
pedagógico da escola.
Nesse quadro, o gestor tem o importante papel de
organizar os trabalhos e favorecer a participação de todos, e também de
viabilizar os espaços e recursos necessários à construção, avaliação e
reconstrução do projeto pedagógico. Assim, estará contribuindo para a efetivação
de uma gestão democrática, o que representa, também, a implantação de uma nova
concepção de educação que integra e valoriza o espaço escolar e o fazer
educativo.
De acordo com Jussara Hoffmann, são vários os fatores
que dificultam a superação da escola tradicional, como as práticas pedagógicas,
as formas administrativas centralizadoras e, sobretudo, os critérios e métodos
de avaliação, que se relacionam às possibilidades concretas de superação dos
problemas detectados.
Dentre os aspectos a serem superados, destacam-se a
imposição do ritmo de aprendizagem, o controle das atividades (que devem ser
realizadas por todos ao mesmo tempo), a uniformidade das respostas esperadas, o
atendimento a um cronograma rígido, a comparação entre os resultados apresentados
pelos alunos, a expectativas idênticas (que não respeitam as características
individuais).
Se estamos caminhando rumo à superação dos problemas
tradicionais e à implantação de uma escola de qualidade – que tenha em vista a
formação cidadã e a transformação da realidade – então é necessário que os
diferentes sujeitos/atores do processo pedagógico estejam integrados e
dispostos a rever posições e inovar, buscando atender as expectativas e
necessidades de aprendizagem e de desempenho da escola no contexto social.
As práticas docentes e ação gestora devem ser
articuladas em torno do objetivo de ampliação do acesso à educação de
qualidade, o que significa a adoção de posturas condizentes com o papel que a
educação e a escola são chamadas a cumprir.
Para tanto, ao organizar a administração escolar, seja
como diretor ou coordenador, o gestor deve proporcionar espaços e tempos para a
reflexão, o compartilhar de ideias, a aproximação entre os sujeitos e para a
concepção de caminhos e estratégias que sejam pertinentes e estejam de acordo
com as necessidades detectadas.
Os tempos destinados às reunião de trabalho devem,
portanto, comportar espaços para a avaliação, com a identificação dos aspectos
de organização e prática que devem ser preservados, pois eficazes, como também
dos que devem ser modificados. Por essas razões, é necessário estudar os
resultados da avaliação e extrair desses instrumentos as informações que
subsidiarão a transformação da realidade.
O coordenador deve ser mediador e interlocutor, ou
seja, contribuir para o processo de análise das avaliações e auxiliar na
formação das equipes escolares, que têm por objetivo estudar os resultados e
propor mudanças que visem o encontro de novas práticas. Para tanto, é
necessária a discussão e o compromisso, que só podem ser realizados mediante à
disposição conjunta de novos horizontes educativos, de uma sociedade
transformada pela escola.
É necessário que avaliação seja pensada como um
instante, dentre muitos outros, em que o conjunto dos atores pode refletir
sobre suas práticas e concepções e se dispor a mudanças significativas no
interior da escola.
Atualmente os gestores desempenham diferentes funções
interligadas: de mediadores, interlocutores, orientadores, articuladores e
formadores, tendo em vista a necessidade de converter o ambiente escolar em um locus
de interação e formação dos estudantes e dos profissionais da educação, sendo
um espaço privilegiado para as práticas, inclusivas, afetivas, éticas e
democráticas.
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